Mar Sem Lixo: pescadores de camarão retiram 6 toneladas de lixo do oceano
Além do ganho ambiental, participantes do Mar Sem Lixo
ganham créditos em cartão alimentação para gastar na comunidade e contribuem
para pesquisas científicas
Pescadores de camarão
do litoral de São Paulo retiraram do mar cerca de 6 toneladas de lixo nos
últimos 15 meses, o equivalente a cerca de 100 mil embalagens. Outras 4,3
toneladas vieram dos mangues. Além de contribuírem com a limpeza da água, o
material que volta com os trabalhadores nos barcos de pesca e ações especiais
auxilia na geração de renda. Foram distribuídos até agora R$ 100 mil. O lixo é
pesado e revertido em créditos para a compra de alimentação em estabelecimentos
das comunidades onde vivem. A atividade traz ganhos também para pesquisas
científicas da USP, que utilizam os materiais em análises sobre o oceano.
O Programa Mar Sem Lixo é exemplo de política ambiental do Governo de São Paulo
que merece destaque neste Dia da Água, celebrado na sexta-feira (22). A
iniciativa começou de forma piloto nas cidades de Cananéia, Itanhaém e Ubatuba.
A partir de outubro de 2023, as ações ganharam força com a expansão para
Bertioga, Guarujá e São Sebastião, totalizando seis municípios abrangidos.
Os trabalhos são coordenados pela Fundação Florestal, da Secretaria de Meio
Ambiente, Infraestrutura e Logística.
O valor pago aos pescadores pelos quilos de lixo podem chegar a até R$ 650,
creditados mensalmente em um cartão-alimentação. "O programa valoriza o
trabalho desenvolvido pelos pescadores. Quando eles removem o lixo do mar,
fazem um serviço ambiental, despoluindo e deixando o oceano mais limpo",
explica a gestora da Área de Proteção Ambiental Marinha Centro, Maria Lanza.
Ganho para o meio ambiente e também ao bolso
Desde que foi criado, o programa já recebeu 193 cadastros de pescadores. Paulo
Eduardo Pigninoni Vargas, 49 anos, é um deles. Trabalhando há 7 anos no
Guarujá, na Praia do Perequê, ele afirma se orgulhar de participar da
iniciativa. "Com a colaboração de todos, eu acredito que vamos encontrar
menos lixo e mais pescado. Antigamente, a nossa região era uma das melhores
para pesca. Hoje, o pessoal está se bandeando para outros lugares. Então, ter
essa área limpa vai trazer de volta essa atividade econômica."
No período de defeso do camarão, quando a pesca é proibida para proteger a
espécie e neste ano vai de 28 de janeiro a 30 de abril, o Programa Mar Sem Lixo
também auxilia os pescadores. Eles são convidados a participarem de mutirões de
limpeza em áreas de mangue no período. Em fevereiro e março, foram realizadas
sete ações como essa, com recolhimento de quase cinco toneladas de lixo dos
manguezais.
O pescador Nelson Silverio, 64 anos, já participou de dois deles na Praia do
Perequê e afirma que o dinheiro ajuda bastante nas contas de casa. "O
sentimento é de felicidade, porque a gente está fazendo o bem para a natureza e
a natureza nos ajuda também", ressalta.
Edenilson Batista, 48 anos, nasceu no Guarujá e sempre trabalhou como pescador
artesanal. "A gente sobrevive disso, nossa vida é o mar. É triste ver o
lixo no mangue e, se não tomarmos à frente, só vai piorar", afirma.
"Camarão e peixe não se criam no meio de lixo. Se o mar estiver mais
limpo, vai ter mais produção de peixe e camarão."
A gestora da Área de Proteção Ambiental Marinha Centro, Maria Lanza, explica
que o Programa Mar Sem Lixo também contribui para aproximar os pescadores da
comunidade. "É uma mudança de postura e essa sensibilização do modo de
agir tem acontecido com as pessoas que são direta e indiretamente relacionadas
ao projeto", ressalta.
"O Programa Mar Sem Lixo traz uma grande contribuição para o meio
ambiente, além de despoluir o mar. Revela para todos onde aquele papel de bala
que eu jogo na praia pode parar", afirma.
Estudos da USP
Desde que o Programa Mar Sem Lixo começou, foram feitas análises dos resíduos
encontrados com o intuito de aprimorar e monitorar os subsídios para políticas
públicas. Os estudos são realizados pelo Instituto Oceanográfico da USP. Nas
cidades pioneiras do projeto, foi possível identificar que 91% dos itens
retirados do mar são plásticos e apenas 8% do total foram considerados
passíveis de reciclagem.
Em Cananeia, Itanhaém e Ubatuba, há uma média de 65 itens de plástico para 1 kg
de lixo retirado do mar. Isso significa que os pescadores retiraram do mar
aproximadamente 104.845 itens plásticos, considerando itens fragmentados.
Dentre os itens encontrados, estão embalagens de macarrão instantâneo, pão,
bebidas alcóolicas e refrigerante.
Por conta da alta deterioração do plástico recolhido, pouco do lixo consegue
ser reciclado. Apenas 8% do total foi reaproveitado pelas cooperativas de
coleta seletiva dos municípios. O restante seguiu para os aterros sanitários. O
governo estuda agora parcerias privadas que consigam reutilizar o material com
outros processos de reciclagem.
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