Aumenta número de mulheres em cursos com predominância masculina nas Etecs e Fatecs
Formações
técnicas em mecânica e tecnologia e cursos superiores de construção civil e
produção industrial estão entre os destaques
Apesar de maioria
na população brasileira - 51,1%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) - mulheres vivem em constante luta por equidade de gênero e
conquista de espaço na sociedade. Nas Escolas Técnicas (Etecs) e Faculdades de
Tecnologia (Fatecs) estaduais, o ingresso de alunas em alguns cursos que já
foram conhecidos como mais "masculinos" aumentou no período de 2012 a
2022.
O levantamento aponta crescimento do número de mulheres em cursos de áreas
ligadas ao agro, a estudos em mecânica, à tecnologia e informação e também à
construção civil e produção industrial.
Confira os maiores índices de crescimento de público feminino no Ensino Técnico
e Superior Tecnológico do CPS:
Etecs
Programação de Jogos Digitais: +26%
Agropecuária: +18%
Produção de áudio e vídeo: +14%
Agrimensura: +13%
Edificações: +12%
Fatecs
Construção de Edifícios: +12%
Biocombustíveis: +7%
Mecatrônica Industrial: +5%
Análise e Desenvolvimento de Sistemas: +4%
Automação Industrial: +4%
Fora da curva
Incentivar que as mulheres ocupem o espaço que elas desejarem é fundamental. Um
bom exemplo desse trabalho está na Etec Monsenhor Antônio Magliano, de Garça.
Lá, o curso técnico de Eletrônica tinha, em 2012, uma média de 7 alunas por
turma. Dez anos depois, a média passou para 18 estudantes, um aumento de 36%.
No mesmo período, Etecs e Fatecs juntas que oferecem a formação tiveram aumento
total de 6% no número de matrículas das jovens.
Coordenando a modalidade desde 2016, Bruno Miguel Santos Camilo explica que
parcerias entre a unidade e empresas privadas contribuíram na missão de atrair
mulheres para o setor. Segundo ele, os empregadores buscavam por essa de obra
qualificada por entender que elas, além de serem igualmente capazes, ainda
demonstravam mais habilidades com componentes pequenos e delicados.
"Para lidar com eletrônicos, além do conhecimento técnico, é preciso ser
detalhista, ter jeito, paciência e muito cuidado com o manuseio das peças, e
elas desenvolvem muito bem essas competências."
Alexandra da Silva está no terceiro módulo do técnico de Eletrônica. Ela
trabalha em empresas do setor de eletrônicos há mais de 20 anos e uma
oportunidade de promoção no trabalho foi a motivação para que ela buscasse o
curso. "Recebi uma proposta para qual havia necessidade de um conhecimento
mais técnico e fazer o curso tem sido um divisor de águas na minha vida, tem
acrescentado muito ao meu crescimento profissional."
A sala de aula de Alexandra é homogênea, mas ela sabe que é uma área que
normalmente é escolhida por homens. A estudante conta que está feliz em fazer
parte desse cenário. "Nós mulheres temos todo o direito de escolher por
qualquer curso e buscar aprimoramento profissional, além de ser importante
mostrar que somos tão capazes de exercer qualquer função, tanto quanto os
homens."
Diversidade
À frente da direção da Etec Itaquera II, na zona leste da Capital, desde 2012,
Tarsila Oliveira Santiago acompanha de perto a evolução da ocupação de espaço
pelas mulheres. Ela cita que alguns fatores influenciam a busca das alunas por
novas áreas de trabalho. "Além de uma evolução no próprio comportamento
das meninas, que não têm medo de romper barreiras, aqui na escola elas
encontram muito acolhimento, representatividade e diversidade."
A unidade liderada por Tarsila oferece o curso técnico de Edificações. Lá, o
curso que em 2012 tinha 33% de alunas, chegou a 2022 com 45%. A Etec conta com
um quadro de gestão, de docentes e de funcionários administrativos bastante
feminino, o que, para a diretora, também contribui para o resultado.
"Quando as estudantes chegam em uma escola com boa representatividade
feminina, elas se sentem mais acolhidas e ganham força para ir em busca do que
bem entendem, a evolução é maior."
Tarsila destaca ainda que o aumento do número de alunas nos cursos faz toda
diferença para o aprendizado dos rapazes, que acabam educados a conviver com a
diversidade, o que influência no comportamento deles como futuros
profissionais. "No mercado de trabalho eles vão olhar para essas mulheres
como colegas de trabalho e valoriza-las como profissionais, já que vivenciaram
o mesmo aprendizado e foram educados para lidar com a diversidade, a inclusão e
as diferenças, com respeito."
Valorização do mercado
Na Capital, o curso superior tecnológico em Construção de Edifícios, da Fatec
Tatuapé, teve aumento de 12% no número de alunas. Melina Kayoko Itokazu Hara,
diretora da unidade desde 2011, viu de perto esse movimento. Ela explica que
existe um trabalho de incentivo e divulgação dos cursos para atrair o público e
torná-los mais diversos.
Melina destaca que os movimentos de inclusão de mulheres e os incentivos
profissionais conquistados no decorrer dos últimos anos foram fundamentais para
fomentar o crescimento na procura por qualificação. "Percebo que as
estudantes se preocupam muito com a carreira, em ter conquistas profissionais,
e foram se dando conta de que há inúmeras oportunidades em áreas pouco
exploradas por elas."
Na Fatec Tatuapé, os cursos de Controle de Obras e Transporte Terrestre também
avançaram rumo à equidade de gênero. São 11% e 8% mais alunas, em cada um
deles, respectivamente. "Vejo esse avanço também como uma questão de
quebra de preconceitos e desmistificação da ideia de que os cursos têm
direcionamento por gênero."
Desconsiderando o tipo de curso, a ocupação de vagas no Centro Paula Souza como
um todo é bastante equilibrada entre os sexos. O percentual total de matrículas
nas Etecs e nas Fatecs estaduais ficou em 51% para elas e 49% para eles, em
2022. Há dez anos, o mesmo índice era de 46% e 54%, respectivamente.

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