Com diagnósticos em crescimento, Ambulatório de Autismo do HCFMB atende pacientes de 30 municípios
Considerado
Transtorno do Neurodesenvolvimento, o Autismo tem causas multifatoriais e
aspectos peculiares que o definem
O Censo Escolar do Brasil registrou um aumento de 280% no
número de estudantes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) matriculados em
escolas públicas e particulares apenas no período entre 2017 e 2021. No Brasil,
dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) sugerem a existência de dois
milhões de autistas, mas esta estimativa é considerada desatualizada.
Levantamento recente do Center for Disease Control and
Prevention dos EUA mostrou que, se nos anos 1970 o número de diagnósticos de
TEA estava na faixa de um para cada dez mil crianças, em 1995 já havia atingido
um em cada mil e continuou crescendo aceleradamente, até chegar em um a cada 59
em 2018 e um a cada 35 em 2022.
Considerado Transtorno do Neurodesenvolvimento, o Autismo
tem causas multifatoriais e aspectos peculiares que o definem, como:
dificuldade na interação social, atraso na fala ou a fala sem interação social
e estereotipia (modo de agir caracterizado pela repetição verbal ou motora).
A partir dos dois anos de idade é possível realizar o
diagnóstico do TEA. Antes deste período, a Sociedade Brasileira de Pediatria
(SBP) sugere uma escala de rastreamento precoce, que determina os fatores de
risco para determinadas doenças, dentre as quais o Autismo.
De acordo com a neurologista infantil e responsável pelo
Ambulatório de Autismo do HCFMB, Drª. Andrea Siqueira Campos Monti, o Autismo
possui diferentes graus (leve, moderado e grave). “O nível leve precisa de
pouco apoio para as atividades do dia-a-dia. Os níveis moderado e grave
dependem de mais apoio, o que envolve a participação de uma equipe
multidisciplinar. Médicos, terapeutas ocupacionais, psicólogos e fonoaudiólogos
são parte da rede de apoio”, explica.
Ambulatório de Autismo do HCFMB
Com atendimentos as terças-feiras, a partir das 13 horas, o
Ambulatório de Autismo do HCFMB tem 20 vagas disponíveis, sendo cinco para
casos novos e o restante para retorno dos pacientes já atendidos.
Segundo Drª. Andrea, os atendimentos no Ambulatório tiveram
início há dez anos, de forma mensal. “Com o aumento do número de casos, nós
tivemos uma demanda por vaga muito grande e por isso passamos para atendimentos
semanais”, lembra.
Atualmente são três médicos contratados e seis residentes
que realizam os atendimentos dos pacientes no Ambulatório do HCFMB. “A partir
do momento que abordamos a criança, nós aplicamos testes padronizados e
específicos para fazermos o diagnóstico da doença”, explica Drª. Andrea.
Para ela, o maior gargalo em relação aos pacientes com TEA é
a estrutura municipal e multidisciplinar. “Não adianta fazer o diagnóstico e
não conseguirmos orientar corretamente como será o seguimento desta criança”,
pontua.
Isto porque, em muitos casos, os municípios nem sempre
dispõem de profissionais de saúde capacitados para lidar com os desafios
enfrentados pelas crianças e adolescentes com TEA. Nestas situações, os pais
encontram-se numa encruzilhada para a tomada de decisões que envolvem o futuro
dos filhos.
Papel das APAE’s
Com as dificuldades vivenciadas pelos municípios para
formação de uma rede de apoio que acompanhe o desenvolvimento da criança com
TEA ao longo dos anos, convênios são estabelecidos com parte das Associações de
Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE’s).
Em Botucatu, por exemplo, a APAE mantém dois serviços que
atendem pessoas com TEA. As crianças abaixo de seis anos de idade são
acompanhadas no Centro de Atenção à Criança (CAC), estrutura de estimulação
precoce à crianças com déficit do desenvolvimento neuro-psíquico-motor. Metade
do público atendido atualmente é constituído por crianças com TEA, totalizando
51 pessoas.
O Coordenador de Saúde da APAE Botucatu, Thiago Corrêa
Fabri, explica que atualmente o CAC atende um público externo e as crianças são
encaminhadas para avaliação da equipe multiprofissional, que conta com uma
neuropediatra, dois psicólogos, dois fisioterapeutas, dois terapeutas
ocupacionais, duas fonoaudiólogas e uma assistente social.
A Escola da APAE é regulamentada pela Secretaria Estadual de
Educação e mantida com custeio das Secretarias Municipal e Estadual de
Educação.
Encaminhamentos
Os pacientes atendidos pelo Ambulatório de Autismo do HCFMB
chegam via Central de Regulação de Ofertas e Serviços de Saúde (CROSS),
Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Pronto-Socorro Adulto (PSA). Há situações em
que a criança é encaminhada já com o diagnóstico de Autismo e outros casos em
que o encaminhamento é para avaliação da equipe médica. Por esta razão, existe
o Ambulatório de Acolhimento.
Este equipamento público recebe pacientes com quadros de
epilepsia, desvio de aprendizagem, cefaleia, atraso de desenvolvimento e
autismo. “Depois desta triagem, nós direcionamos os pacientes para cada
ambulatório específico”, explica Drª. Andrea.
Nos casos atendidos pelo PSA, o protocolo emergencial é
realizado pelo Serviço de Saúde e, posteriormente, direcionado para o
Ambulatório de Autismo do Hospital.
Tratamento
Qual a terapia mais indicada para o Autismo? De acordo com a
neurologista infantil do HCFMB, existem várias. “Tudo depende de uma avaliação
específica daquela criança; se ela tem mais alterações sensoriais,
comportamentais ou motoras. Tudo isso é levado em consideração no momento da
indicação terapêutica”, explica.
Terapia ocupacional com integração sensorial, o método ABA
(condicionamento do comportamento do paciente), o PECS (comunicação alternativa
por meio de figuras) são meios fundamentais utilizados no tratamento e
acompanhamento das crianças autistas.
A avaliação individual é importante para que o ensino em
escola de educação especial ou inclusivo seja realizado com precisão. “Não
necessariamente uma criança que vai para uma escola de educação especial,
porque o nível de autismo é maior (nível três), ficará para sempre naquele
estágio. Afinal, os níveis melhoram de acordo com as intervenções”, finaliza
Drª. Andrea.
As cidades atendidas pelo Ambulatório de Autismo do HCFMB
são: Águas de Santa Bárbara, Areiópolis, Avaré, Bofete, Cerqueira César,
Coronel Macedo, Iaras, Itaporanga, Laranjal Paulista, Paranapanema, Pereiras,
Porangaba, São Manuel, Taguaí, Tejupá, Anhembi, Arandu, Barão de Antonina,
Botucatu, Conchas, Fartura, Itaí, Itatinga, Manduri, Pardinho, Piraju,
Pratânia, Sarutaia, Taquarituba e Torre de Pedra.

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