EDITORIAL — Diagnóstico: Teimosia crônica e aguda
Ultrapassou do limite do tolerável as novas injunções do prefeito Mário Tassinari para ter alguma ingerência sobre o comando da Santa Casa de Itapeva.
Oficialmente o prefeito emitiu uma nota pública que foi considerada como narrativa inconformista, após tentar nomear sucessivamente o ex-secretário de Saúde, Luiz Tassinari e o ex-procurador geral municipal, João Ricardo de Almeida Figueiredo, para o cargo de administrador geral do hospital.
As indicações foram vetadas pelo conselho da Santa Casa, sob uma alegação bastante simples e convincente: Ambos não possuem perfil técnico profissional de gestores de hospital. Além do mais, ambos os indicados pertencem ao círculo político mais próximo do prefeito, que é considerado pela opinião pública e vereadores como sendo composto, nas palavras usadas na tribuna, por incompetentes e pessoas tóxicas que não assessoram adequadamente o próprio prefeito no governo da cidade.
A nota lançada pelo prefeito nas redes sociais tentou antecipar e justificar a pauta de uma reunião convocada pela vereadora Áurea Rosa, presidente da comissão de Saúde do Poder Legislativo, após uma reunião tumultuada que teve o prefeito Mário Tassinari e o ex-procurador João Ricardo como principais pivôs do desentendimento em relação aos conselheiros da Santa Casa.
De acordo com a versão alegada pelo representante da irmandade da Santa Casa de Itapeva, o prefeito de forma bastante insistente tentava forçar a nomeação do ex-procurador municipal como administrador do hospital, com finalidade de demitir quadro de funcionários que o prefeito julga como desnecessário ao funcionamento do hospital, além de excessivo quanto aos custos na folha de pagamento da Santa Casa.
A nomeação de João Ricardo de Almeida Figueiredo foi desaprovada por unanimidade, conforme informação prestada pelo representante da irmandade da Santa Casa, em reunião nesta tarde na Câmara Municipal de Itapeva. Diante da negativa, o prefeito Mário Tassinari agiu de forma descontrolada, afirmando que a Santa Casa poderia explodir e que o acordo de gestão compartilhada estava rompido. Justamente pelo teor das declarações do prefeito, afirmando o rompimento do acordo, houve uma reação da Câmara Municipal, convocando reunião com os representantes do conselho da irmandade para esclarecer os acontecimentos.
Os vereadores perplexos com o depoimento do representante da Santa Casa, consideraram que a intenção do prefeito ao insistir em nomear pessoas do seu círculo político aparentemente é operar uma intervenção velada no hospital, o que para irmandade da Santa Casa é algo inadmissível.
Embora a secretária municipal de Saúde, Vanessa Guari, tenha manifestado que essa é uma situação que não deve ser politizada, há de se convir que o fato do prefeito Mário Tassinari indicar para cargos administrativos da Santa Casa pessoas que pertencem ao seu grupo político, não há como não tratar o assunto como não sendo um acontecimento de repercussão na política municipal.
As pressões jurídicas e financeiras sistemáticas ordenadas pelo prefeito sobre a Santa Casa sempre foram corroboradas pelos secretários e chefe do departamento jurídico da Prefeitura de Itapeva, sendo portanto, qualquer ação relacionada a esse assunto um conjunto de atos que emanam diretamente de um dirigente que ocupa cargo político municipal de alto escalão em parceria com grupo de indicados políticos por ele próprio.
A obstinação do prefeito em indicar cargos para gestão administrativa da Santa Casa não deixa de ser uma clara intenção de incorporação do comando das atividades do hospital à um projeto político de poder.
Se a Santa Casa necessita passar por uma fase de reestruturação de serviços voltados para população e custeio mais eficiente desses serviços por meio dos entes públicos, nada mais eficaz e eficiente, além de moralmente aceitável, do que indicar pessoas com perfil técnico e carreiras consolidadas no meio de gestão hospitalar.
Não é necessário grande esforço intelectual para compreender que sujeitos subordinados politicamente com dever de obediência incondicional ao prefeito não possuem o perfil mais indicado para essa árdua missão de reestruturação dos serviços prestados pela Santa Casa à nossa cidade e região.
Depõe contra a teimosia do prefeito o fato de que apesar de ser médico e especialista em atenção básica, o seu governo não tem conseguido manter padrões de atendimento eficientes e satisfatórios na rede municipal de saúde, assistência farmacêutica municipal e UPA. Considerando essa realidade incontestável, o prefeito não deveria se atrever a ser inventor de gambiarras administrativas na gestão direta da Santa Casa, ainda mais indicando figuras do seu círculo político que não dão conta do recado de gerir o que é atribuição da própria prefeitura.
Apesar do prefeito afirmar que existe um inevitável colapso rondando a Santa Casa, tudo leva a crer que o verdadeiro colapso está ocorrendo no seu governo com um impacto muito negativo para a administração governamental de Itapeva.
Enquanto nada é resolvido em definitivo, a Santa Casa, pelo sim, pelo não, deve ser dirigida por profissionais capacitados de gestão hospitalar e não por aventureiros políticos teimosos com o poder da caneta temporariamente em suas mãos.

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