Editorial

Amanhã começa a corrida para a cadeira majoritária de Itapeva

A disputa pela prefeitura de Itapeva está prestes a começar oficialmente, e o cenário não poderia ser mais turbulento. Quatro candidaturas emergem com diferentes estratégias e alianças, cada uma buscando conquistar o coração do eleitorado do maior município do sudoeste paulista. Mas, como sempre, em política, o jogo de bastidores é tão decisivo quanto as promessas de campanha. E nesta corrida, o lema "feio é perder a eleição" parece ecoar com ainda mais força entre os principais grupos políticos da cidade.

A candidata da máquina apoiada pelo prefeito Mário Tassinari pelo visto não garante o voto de confiança depositado nela. Mas, Vanessa Guari, que conta com o apoio explícito do prefeito Mário Tassinari, enfrenta uma batalha interna antes mesmo de enfrentar seus adversários nas urnas. O grupo de Tassinari, em sua busca para garantir a sucessão, parece estar navegando em águas revoltas. A aliança com o PSB, um partido tradicionalmente inexpressivo no cenário politico de Itapeva, e a entrega da Secretaria de Saúde e Ação Social para um de seus quadros levantam suspeitas. Esse movimento, que teria seduzido o chefe de gabinete Luiz Tassinari com promessas nebulosas de apoio financeiro, indica que há muito em jogo e, talvez, muito a esconder.

O apoio do ex-prefeito Luiz Cavani a Guari também não passa despercebido. Cavani, figura política marcada pelo escândalo das notas frias que o retirou do poder em 2019, agora ressurge como um aliado estratégico. Isso lança sombras sobre a candidatura de Lucinha Schreiner e Leonardo Tassinari, que muitos acreditam serem apenas peças de um jogo maior, cujo objetivo seria dividir votos para favorecer Vanessa Guari e o antigo grupo cavanista. Em uma cidade como Itapeva, onde as memórias políticas são longas, essa aliança questionável pode ser tanto um tiro no pé quanto uma jogada de mestre.

Enquanto isso, a dupla Jé e Debora Marcondes, sem dúvida, representa a candidatura mais surpreendente desta eleição. Contando com o apoio inesperado do Progressistas, representado pela velha guarda de Áurea Rosa e Paulo Roberto Tarzan, essa chapa emergiu de maneira quase inesperada. A retirada de Roberto Comeron, que já havia montado comitê e conquistado o apoio do deputado Maurício Neves, mostra como as manobras políticas podem mudar o rumo de uma eleição. O apoio irrestrito de Áurea Rosa à chapa de Jé e Debora sugere que, nos bastidores, os interesses e as alianças de longo prazo pesaram mais do que a lealdade partidária.

Apesar de todas as reviravoltas, a escolha de Debora Marcondes como vice levanta dúvidas. Polêmica e com raízes no PSDB de Luiz Cavani, sua presença na chapa de Jé sugere uma aliança de conveniência, onde o pragmatismo eleitoral supera qualquer discordância ideológica. No entanto, essa composição pode ser justamente o que Jé precisava para se consolidar como o principal nome de oposição ao grupo de Tassinari e Cavani. Uma aliança com PSDB e Progressistas pode, afinal, proporcionar a base de votos necessária para uma vitória que não apenas surpreenderia, mas redefiniria o cenário político de Itapeva.

Por outro lado, surge a candidatura da Coronel Adriana Duch, que ao lado do empresário Generci Neves, representa o campo bolsonarista. Embora considerada inexperiente e inexpressiva pelos seus concorrentes, a policial militar é vista com bons olhos por um eleitorado fiel ao bolsonarismo, que tem demonstrado uma resiliência notável. Adriana Duch aposta justamente nesse grupo para desbancar as velhas raposas da política local. Seu nome, que ressoa positivamente nas ruas, pode ser o diferencial nesta eleição marcada por traições, alianças improváveis e uma guerra velada entre facções políticas.

O que está em jogo nesta eleição vai muito além do cargo de prefeito. A sucessão de Tassinari é, na verdade, uma disputa entre modelos de poder, onde o uso da máquina pública e as alianças com figuras controversas são as armas principais. Perder, para o grupo do atual prefeito, seria um desastre não apenas eleitoral, mas um sinal inequívoco de desunião e falência de um modelo político que dominou Itapeva por anos. De um lado, a tentativa de continuidade com Vanessa Guari, apoiada por figuras envoltas em escândalos; de outro, a oposição que, mesmo fragmentada, busca se apresentar como a única alternativa viável.

A política em Itapeva, assim como em muitos outros lugares, é um jogo de poder, influência e, inevitavelmente, traição. Nesta eleição, porém, mais do que nunca, vencer é uma questão de sobrevivência. Quem não conseguir unificar suas bases, construir alianças sólidas e evitar o desgaste de escândalos passados, dificilmente terá uma segunda chance.

E assim, com alianças que desafiam a lógica, promessas que tentam seduzir um eleitorado cada vez mais cético e uma disputa acirrada pelo controle da máquina pública, Itapeva se prepara para o início de uma campanha que promete ser histórica. O que resta é saber quem será capaz de emergir deste campo minado como o vencedor. Afinal, como bem diz o adágio popular: feio mesmo é perder a eleição.

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