Editorial

Prefeito com titica na cabeça

Se o prefeito Mário Tassinari não queria ser taxado de manipulado ou rabo preso, ele perdeu todas as oportunidades, definitivamente.

Ao manter determinado assessor com poder e influência para mandar e desmandar em seu nome e fazer acordos como representante da prefeitura, o prefeito deixou uma cobra ser criada no gabinete. Cobra, não, pois estamos falando de um animal com penas, apesar da astúcia.

Em pedido de cassação protocolado na Câmara Municipal, o cidadão Maurício Coelho, famoso por suas denúncias contra irregularidades de prefeitos e seus assessores, demonstrou que uma comissão de investigação, composta por vereadores aliados do prefeito, não fez nenhuma questão de apurar material com trocas de informações entre o assessor do prefeito (Giovani Galo) e empresário de prestadora de serviços de zeladoria urbana para a prefeitura.

O assessor repassou diretamente informações de cotações de valores e quantitativos de serviços e mão de obra para a empresa interessada formular orçamentos e propostas, para obter contrato de licitação emergencial de limpeza urbana. Emergência, com todas as feições de ser uma emergência pré-fabricada para essa mesma finalidade.

Nas conversas flagradas por meio de prints de mensagens de WhatsApp, levadas ao conhecimento da Câmara Municipal no ano passado, nenhum vereador da comissão de investigação fez pedidos de explicações aos envolvidos e transcrição dos áudios, nos quais, supostamente, o assessor combina valores e propinas para que a empresa obtivesse o contrato. O descaso dos vereadores tornou a comissão inerte, perdendo o prazo de apuração das denúncias e análise das provas para elaboração de relatório final para encaminhamento ao Ministério Público. Na prática, foi mais uma comissão especial de inquérito que virou pizza, mas, dessa vez, tendo vereadores aliados do prefeito preparando a massa e o recheio.

Na última semana, após meses de inércia da comissão de inquérito, composta por vereadores aliados do prefeito, encabeçada por Célio Engue e Robson Leite, o desfecho sobre essa situação foi surpreendente. Por meio de uma aparente manobra de vereadores de oposição, garantiu-se quórum de votação para aceitar o pedido de cassação, com base nas denúncias de favorecimento ilegal em licitação, feitas por meio do assessor.

Diante disso, os vereadores apoiadores do prefeito ficaram no paredão, indo reclamar da situação diretamente ao prefeito e ao chefe de gabinete Luiz Tassinari, exigindo a exoneração do assessor antes mesmo da sessão acontecer, para abafar os ânimos acirrados na Câmara Municipal, em pleno período eleitoral.

Apesar disso, o pedido de instauração de comissão processante foi aceito por 10 x 3 contra o prefeito Mário Tassinari, por suposto conluio com as ações do assessor, elemento que ofende o decoro do cargo que ocupa e contesta a credibilidade da reputação do prefeito como gestor acima de qualquer suspeita.

Um dos documentos juntados no pedido de cassação trata de uma manifestação do controlador interino da prefeitura, na qual há apontamentos de irregularidades na forma como o assessor tratou o assunto com o empresário, por meio de comunicação sem nenhuma oficialidade. O relatório, conforme narra o pedido de cassação, foi completamente ignorado pelo prefeito Mário Tassinari e pelo chefe de gabinete Luiz Tassinari, a quem o assessor também é subordinado.

O assessor, além de pivô desse escândalo, também é cabo eleitoral declarado da candidata a prefeita Vanessa Guari, o que coloca em xeque a ausência desta vereadora na sessão de votação. A ausência na sessão é considerada como premeditada, para não comparecer na votação, onde seria obrigada a cumprir acordos políticos com o prefeito e assessor e votar contra a denúncia e o pedido de cassação.

Para engrossar a trama, segundo os corredores do Poder Legislativo, a vereadora e ex-secretária de Saúde é, na verdade, a candidata a prefeita apoiada pela máquina do Poder Executivo, apesar do prefeito Mário Tassinari negar e dizer que apoia a candidatura de Lucinha Schreiner e Leonardo Tassinari para prefeitura. Entretanto, tudo o que o prefeito insiste em negar sempre depõe contra suas palavras, pois suas atitudes, permitindo que assessores e secretários sejam fiéis escudeiros de Vanessa Guari, demonstram claramente que, por ordens do prefeito, a máquina administrativa deve trabalhar em favor da candidatura de Vanessa Guari.

Além disso, o prefeito demonstra ares de irritação contra quem acuse o assessor de qualquer deslize, pois, no caso de favorecimento para empresa vencer contrato de zeladoria urbana, promovido pelo assessor do prefeito, estão até agora sem esclarecimentos por parte do prefeito e do chefe de gabinete. Ambos fogem de dar explicações coerentes do porquê manterem no cargo um assessor com rejeição de vereadores da base e outros aliados do prefeito, que sofrem retaliações por discordarem da permanência do assessor no cargo. Além do fato de o assessor usar a estrutura de gabinete e secretaria de Saúde e Serviços Rurais para apoiar a candidata que não é a candidata que Mário Tassinari declara apoio, inclusive em vídeos, nesse caso Vanessa Guari é totalmente favorecida e centro das atenções, enquanto o assessor desfruta da confiança inabalável do prefeito.

Embora a traição aberta e escancarada seja a ordem do dia nas eleições deste ano, tudo leva a crer que o prefeito tenha titica de galinha na cabeça e aceite passivamente todas as traições políticas dentro e fora da prefeitura. O prefeito Mário Tassinari não coloca ordem no galinheiro, permitindo o caos político e administrativo generalizado dentro da Prefeitura de Itapeva, que influi nas pautas da Câmara Municipal, afetando inclusive a disputa eleitoral deste ano.

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