Editorial

A caquistocracia de Itapeva

O conceito de Política significa muitas coisas diferentes. O principal conceito de política está relacionado ao ato de governar e tomar decisões. De forma ampla, a política é associada ao governo, às suas decisões e efeitos que produz na vida da sociedade.

Desta forma podemos entender que política também é uma prática, um conjunto de ações, que se correlaciona com as questões de governo e interesses públicos do povo, tendo em vista que é preciso um relacionamento político para que os governantes tomem decisões que atendam aos interesses dos cidadãos. Em caráter menos abrangente, porém prático, o conceito de política também pode se referir ao relacionamento entre as pessoas, principalmente quando o objetivo é chegar a um consenso ou um objetivo em comum.

A palavra política tem origem no termo grego politiké, que é a união de outras duas palavras gregas: polis e tikósPolis significa cidade e tikós é um termo que significa o bem comum dos cidadãos. Assim, politiké era um termo grego que significava governo da cidade para o bem comum de todos os cidadãos.

Com essa breve explicação sobre o conceito de política tenham certeza de uma coisa: Em Itapeva a política não é nada disso. Os agentes políticos eleitos fazem outra coisa que foge dos conceitos básicos da política normal.

Em Itapeva, para nossa infelicidade, pratica-se algo mais próximo da expressão caquistocracia, que derivada do grego kakistos (superlativo de “mau”) e kratos (“poder”), a palavra significa: “o governo dos piores”.

A expressão foi talhada no século XVII para descrever a ascensão política de cidadãos menos qualificados ou menos escrupulosos para governar e para ser porta vozes das demandas e tomadas de decisão do povo.

Na história recente das eleições de Itapeva, os eleitores elegeram prefeitos e vereadores que foram completos desastres para fazer política e governar a cidade.

 Analisando apenas os últimos dez anos tivemos três prefeitos, cada um deles sendo esperança de renovação política e seriedade no governo de Itapeva, recebendo a confiança do povo para mudar os rumos do município. É fato incontestável que todos os prefeitos chegaram ao poder nos braços do povo, mas no final de cada mandato estavam soterrados por avalanches de críticas merecidas.

Aqui cabe uma pausa para uma reflexão acessória: O sociólogo Jessé de Souza diz que: “Criticamos somente aquilo que levamos a sério”. Como é papel do cidadão exercer seus direitos de cidadania, lhe é permitido opinar sobre como as coisas públicas, isto é, como administração da cidade em uma república está sendo feita. Se está sendo feita com ou sem seriedade por parte dos ocupantes de mandatos de prefeito e vereador. Cabe a imprensa a tarefa de retratar, descrever e opinar sobre esses fenômenos como rascunho da história que será consumada futuramente.

Eis o fenômeno: Em Itapeva sempre ocorre o fenômeno de final de mandatos quando são amaldiçoados prefeitos e vereadores diante de um consenso generalizado que a situação da política municipal é uma completa bufonaria.

Na última década Itapeva foi vítima de atos de corrupção de governante que hoje resulta em condenações criminais. Em última análise punir atos de corrupção praticados é algo salutar, pois inibe a impunidade e mantém uma direção de ordem e honestidade a ser seguida. Por outro lado, atesta que o governo municipal foi usado para benefício lucrativo de um grupo de pessoas mal-intencionadas e inescrupulosas. Em resumo isso não é política, mas sim caquistocracia.   

Em dez anos as promessas de obras, reformas administrativas, desenvolvimento social e econômico propostas por todos os prefeitos eleitos resultaram em voos de galinha administrativos. São raras as exceções quando houve melhorias nos métodos de controles administrativos, governabilidade, investimentos em políticas públicas de amparo a pessoas de baixa renda em situação de vulnerabilidade social e sustentação de investimentos privados gerando empregabilidade com vagas de emprego e trabalho em grande escala na cidade.

Após a fase da pandemia que castigou severamente a nossa população e por consequência o comércio local, Itapeva conseguiu retomar satisfatoriamente condições de emprego, consumo e atendimento social e abaixo do esperado em serviços de saúde e obras de moradias. Em parte, houve preservação do mínimo necessário para a população manter o básico em termos de renda e condições sociais de manutenção do orçamento doméstico, porém as demandas de atendimento de serviços de saúde básica e projetos de moradia ficaram a desejar. Sempre é necessário recordar que os prefeitos eleitos sempre prometem fazer mais do que o necessário nesses setores, obviamente para seduzir os votos dos eleitores, mas sempre entregaram menos do que prometeram no final dos mandatos.

Diante desse cenário municipal de caquistocracia temos que analisar também os efeitos da política no contexto do governo estadual e nacional. No mesmo período de dez anos, tivemos três governadores e quatro presidentes da república em exercício de mandatos. De 2013-2014 até o presente momento. Os governadores jamais deram a devida atenção para pautas como duplicação da rodovia SP-258. A duplicação seria um importante obra de infraestrutura que atrairia inúmeras opções de investimentos para Itapeva que é reconhecida como um polo de produção agrícola de excelência e prestação de serviços correlacionados ao setor. Nenhum prefeito de Itapeva e região conseguiu levar essa pauta adiante com eficácia. Sempre requentam as mesmas soluções simplistas e improdutivas, como por exemplo, formar e apoiar frentes parlamentares a cada quatro anos para tratar do tema. Eis aqui um indício de caquistocracia.                

No contexto político nacional houve o crescimento da polarização entre extrema direita e oposição de esquerda, que gerou apenas acirramento ideológico e desmobilização de políticas sociais e econômicas, resultando em um governo catastrófico para as camadas sociais menos favorecidas que moram em todos os recantos do país, ou seja, que estão enraizadas nos municípios, onde via de regra os operadores da política local se tornaram reprodutores do que existe de pior no contexto de manifestação ideológica extremista ou conchavos partidários inescrupulosos que em nada atendem demandas locais das populações dos municípios.

Exemplo mais pertinente para ilustrar esse fato foi durante a pandemia, onde centenas de prefeitos, vereadores e munícipes influenciados negativamente por ideologias radicalizadas eram contra as medidas de enfrentamento sanitário da covid, contra a vacinação e posteriormente contra qualquer espécie de pacificação de conflitos gerados em razão da fanatização ideológica, ou melhor dizendo, em favor da caquistocracia que governou o Brasil de 2019-2022. Em 2022 e 2024 as eleições foram nada mais nada menos que uma reprodução dessa polarização, tornando o que é política de fato em briga tribal entre torcidas fanáticas por personagens e ficção ideológica radicalizada.

O presente momento, de final de mandato de prefeitos e vereadores, é mais uma vez uma janela de oportunidade para que os cidadãos de Itapeva reflitam sobre o que realmente pensam e esperam do próximo governo municipal e posteriormente dos próximos governos na esfera estadual e nacional. Estamos tratando de coisas sérias que refletem os destinos da qualidade do governo da cidade, porém o cidadão que diz querer uma cidade melhor, ou que se acha apto a tratar de política fala de suas convicções políticas descabidas nas redes socais como papagaio ou jogando baralho no fundo do quintal regado a cerveja e churrasco.

Em resumo: Se o morador da cidade não se compreender como elo fundamental dessa relação política de poder a tão nociva e destrutiva caquistocracia será nosso destino novamente. Nenhum cidadão pode afirmar que qualquer governo está de mal a pior para depois agir com indiferença ao que acontece na sua rua, no seu bairro, na sua cidade.

Quando existe apenas desprezo pela atividade política regular assim como radicalização ideológica, o que prospera é o fenômeno da caquistocracia. O desprezo do cidadão em relação às regras que tornam o governo da cidade mais qualificado e voltado para o interesse público produz como resultado abonar as condutas dos piores malfeitores encarregados de tomar decisões que afetam as vidas de todas as pessoas que estão vivendo e trabalhando no município. O resultado de menosprezar a atividade de prefeitos e vereadores ou não reivindicar ações políticas sérias praticadas por pessoas de boa índole começa pelo voto em quem não tem aptidão alguma para exercer funções de gestor público ou legislador municipal.

Como estamos diante do início do próximo governo eleito com tamanha sede de renovação e administração eficiente é necessário recordar que todos os prefeitos e vereadores foram portadores da expectativa de dias melhores para Itapeva. Esta mesma expectativa sempre foi desfeita meses depois da posse, pois o relacionamento politiqueiro entre operadores do Poder Executivo e Poder Legislativo nada mais é que um atestado de caquistocracia no poder, e não de políticos sérios, preparados e comprometidos trabalhando juntos em favor do interesse público municipal.    

Ao longo da história recente do governo de Itapeva não faltam episódios de crises e desavenças entre prefeitos e vereadores ubuescos. Todavia, se estivermos novamente diante do paradoxo mais absurdo das eleições municipais, que é prometerem na campanha o que irão depois descumprir durante do mandato ou simplesmente se aliar aos adversários que fizeram de tudo para destruir suas candidaturas, tenham certeza, isso não é política, é caquistocracia novamente no poder!

A farsa da política em Itapeva é agora uma máscara que caiu de permitiu vermos que existe a caquistrocracia municipal. A caquistocracia de Itapeva que funciona assim: O prefeito se elege em estado de graça com o povo, para depois cometer a desgraça de ceder aos vereadores que votam as propostas em benefício da cidade somente se puderem escolher os secretários e cargos entre seus associados, para defendem exclusivamente apenas seus próprios interesses.

O cidadão de Itapeva que ainda aplaude e consente essa forma de relação de poder na verdade nada entende de política. Apenas apoia a caquistocracia que se repete embaralhando velhas e novas cartas no mesmo baralho de cartas marcadas.

 

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