Editorial

A tarifa do transporte subiu para R$ 11,00 — e quem paga essa conta é você!


Com a omissão da Câmara e o aval da Prefeitura, Itapeva sustenta um sistema caro, ineficiente e blindado contra a concorrência. O custo? Pode passar dos R$ 3 milhões por mês — e ninguém presta contas.

Em uma cidade onde o trabalhador sobrevive com salário apertado, a notícia de que a tarifa do transporte coletivo subiu para R$ 11,00 por trecho soa como um deboche institucional. É isso mesmo: R$ 22 por dia só para ir e voltar do serviço, enquanto o sistema opera em regime de exclusividade, sem concorrência, sem transparência e com subsídios pagos por você — via impostos.

O Decreto nº 14.543/2025, assinado pela prefeita Adriana Duch e publicado sem qualquer debate público, instituiu valores que ultrapassam até os praticados em grandes capitais. Para quem não tem cartão social ou cadastro, o valor é integral: R$ 11,00 por trajeto. E no papel, a justificativa repousa no contrato de concessão firmado com a empresa Jundiá Transportadora Turística Ltda., ativo desde 2012 e aditivado em 2021.

Mas eis o ponto que ninguém quer responder: cadê esse contrato? Cadê as planilhas de custos? Cadê os relatórios de passageiros por categoria?

Com base em projeções realistas, estima-se que, se 5.000 passageiros forem transportados por dia com tarifa zero, ida e volta, o gasto mensal ultrapassa R$ 3,3 milhões. E atenção: esse valor é hipotético e pode ser ainda maior, já que não há dados públicos consolidados sobre a quantidade de gratuidades, o volume de repasses mensais e os critérios adotados para esse subsídio.

É o custo de um sistema opaco, sustentado com dinheiro público, sem licitação atualizada, sem nova concorrência e com benefício concentrado nas mãos de uma única empresa.

Enquanto isso, a Câmara Municipal assiste calada. A última CEI virou piada. Denúncias sobre uso indevido de recursos do Fundeb para pagar transporte escolar terceirizado surgiram, foram abafadas e jogadas no fundo da gaveta. O Ministério Público cruzou os braços. E os vereadores, salvo raras exceções, preferem o conforto da omissão ao desconforto de peitar o esquema.

O resultado é um transporte caro para o usuário, caro para o município e confortável apenas para quem fatura alto sem ser questionado.

É preciso lembrar: o princípio da modicidade tarifária está na Lei das Concessões (nº 8.987/1995) e garante que o valor cobrado deve ser justo, compatível com a capacidade econômica do usuário. Tarifa de R$ 11,00 em Itapeva é uma afronta ao bom senso e à legalidade. E o que é pior: não há uma única explicação técnica que sustente esse número.

Queremos respostas. Queremos acesso ao contrato. Queremos planilhas auditáveis. Queremos saber por que empresas locais não têm chance de participar. E principalmente: queremos saber quanto, de fato, está sendo pago mensalmente à Jundiá — porque até isso está sendo escondido.

É hora da população acordar. Não se trata apenas de transporte. Trata-se de uma política pública milionária, sustentada por impostos e gerida no escuro. E no escuro, como já se sabe, quem lucra é sempre o mesmo grupo.

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