Prefeita Adriana Duch publica à noite decreto-surpresa e suspende pagamento de férias e licença-prêmio em dinheiro para servidores de Itapeva
Sem aviso prévio e fora de qualquer debate na Câmara,
gestão municipal escolhe o Diário Oficial noturno para anunciar mais um arrocho
contra o funcionalismo
A gestão da prefeita Adriana Duch resolveu inovar no quesito
impopularidade: desta vez, o pacote de más notícias foi entregue de forma
sorrateira, no apagar das luzes desta terça-feira, 17 de junho de 2025, com a
publicação no Diário Oficial do Município, já durante a noite. O conteúdo? Um
decreto-relâmpago que suspende, por todo o exercício financeiro de 2025, o
pagamento em dinheiro das férias e da licença-prêmio dos servidores municipais.
O Decreto nº 14.601, que entrou em vigor no exato momento de
sua publicação, caiu como uma bomba entre o funcionalismo. Não houve consulta
pública. Não houve sinalização prévia. Nenhuma palavra foi dita nas últimas
sessões da Câmara Municipal. Nem mesmo os vereadores da base aliada, sempre
dispostos a blindar o Executivo, foram informados da decisão. A escolha pelo
horário da publicação – à noite, num dia útil, sem qualquer aviso à imprensa ou
aos sindicatos – revela o tamanho da preocupação da Prefeitura com a
repercussão negativa que já se desenha.
A justificativa formal, como de costume, veio embalada em um
festival de tecnicismos jurídicos e frases de efeito que pouco dialogam com a
realidade de quem sustenta a máquina pública no dia a dia. A prefeita, em tom
professoral, cita desequilíbrio fiscal, dificuldades herdadas da gestão
anterior e o mantra da responsabilidade administrativa como escudo para o novo
arrocho. Segundo o texto oficial, o decreto é necessário para proteger os
serviços essenciais e evitar um suposto colapso das contas municipais.
Na prática, porém, quem paga a conta é o servidor. O
trabalhador da educação, o agente de saúde, o motorista da ambulância, o
auxiliar administrativo... todos eles, que já engoliram a mudança na data de
pagamento dos salários para o quinto dia útil, agora terão de lidar com mais
esse corte de direitos. Muitos servidores contavam com o recebimento em
dinheiro das férias ou da licença-prêmio como saída para resolver problemas
financeiros, quitar dívidas ou realizar pequenos projetos pessoais. Agora, tudo
congelado por tempo indeterminado.
O decreto até tenta disfarçar a gravidade da medida ao
prever que a suspensão poderá ser revista "a qualquer tempo", caso
haja aumento de arrecadação. Mas entre o papel e a realidade, a distância é
longa. Servidores experientes sabem que, na prática, essa revisão só acontece
com muita pressão política – e quase nunca no mesmo exercício financeiro.
O fato de a publicação ter sido feita no período noturno, de
forma discreta e sem qualquer debate prévio, apenas reforça o sentimento de
traição dentro da própria base de apoio da prefeita. Nos corredores da
Prefeitura, o clima nesta noite já é de tensão. Nos grupos de WhatsApp de
professores, servidores da saúde e administrativos, a indignação transborda.
Muitos se perguntam se novas medidas de contenção ainda virão nos próximos
meses.
Na Câmara Municipal, a surpresa também foi geral. Até os
vereadores mais próximos da prefeita foram pegos de calças curtas. Nenhuma
menção ao decreto foi feita nas reuniões recentes. Nenhuma sinalização de que a
gestão pretendia mexer novamente nos direitos dos servidores. A publicação
noturna, ao que tudo indica, foi calculada para reduzir o impacto imediato –
tentativa inútil, aliás, pois a notícia correu como rastilho de pólvora assim
que o Diário Oficial foi atualizado no site da Prefeitura.
O desgaste político da prefeita Adriana Duch, que já vinha
se acumulando ao longo de 2025, agora atinge um novo patamar. Para os
servidores, a mensagem é cristalina: direitos podem ser retirados da noite para
o dia, sem aviso, sem debate e sem o mínimo de consideração.
A pergunta que ecoa nesta noite de terça-feira entre os
servidores municipais de Itapeva é simples, direta e carregada de indignação:
“Quem será o próximo a pagar a conta?”


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