Política

Sob pressão, prefeita de Itapeva revoga mudança no calendário de pagamento dos servidores municipais


Após meses de críticas, manifestações públicas e cobranças de vereadores, a gestão Adriana Duch volta atrás e confirma que os salários continuarão sendo pagos até o dia 30 de cada mês.

 

A decisão de alterar o calendário de pagamento dos servidores municipais de Itapeva, transferindo o depósito dos salários para o quinto dia útil do mês subsequente, naufragou de forma retumbante antes mesmo de sair do papel. A prefeita Adriana Duch, em um gesto que mistura tentativa de recomposição política e reação à pressão popular, anunciou em suas redes sociais nesta noite que a folha continuará sendo quitada dentro do mês trabalhado, como sempre foi tradição no município.

O recuo da chefe do Executivo não ocorreu por acaso. Nas últimas semanas, a proposta enfrentou um verdadeiro cerco de críticas vindas de diferentes flancos: dos próprios servidores públicos, dos vereadores da base e da oposição e também da imprensa — com destaque para o Jornal No Alvo, que desde o anúncio inicial expôs as consequências práticas e sociais da medida.

O argumento oficial da prefeitura, ao anunciar a mudança há seis meses, era técnico: adequar o fluxo financeiro municipal às exigências do e-Social e aos padrões contábeis recomendados para administrações públicas. Nos bastidores, no entanto, a leitura de boa parte do funcionalismo e de setores políticos da cidade era outra: tratava-se de um ajuste para aliviar o caixa da prefeitura, que atravessa dificuldades de liquidez.

A fala da prefeita Adriana Duch, gravada ao lado da secretária de Recursos Humanos, Sílvia Glauser, soou como uma tentativa de explicar o inexplicável. "Nós fizemos um anúncio que em seis meses o pagamento passaria para o quinto dia de cada mês. Isso gerou uma certa complicação na nossa sociedade", admitiu a gestora. Ao relatar conversas informais com servidores em mercados, escolas e unidades de saúde, a prefeita disse ter sido sensibilizada pelos relatos de dificuldades financeiras que a mudança causaria aos trabalhadores.

O impacto era previsível: servidores com prestações de carros, contratos de aluguel e contas mensais planejadas para o dia 30 já contabilizavam os danos de um atraso sistemático, ainda que tecnicamente programado. A pressão aumentou nas redes sociais, nos corredores da Câmara Municipal e em grupos de WhatsApp de servidores municipais. Parlamentares, até então alinhados ao Executivo, passaram a cobrar publicamente a manutenção da data atual de pagamento.

O estopim, segundo fontes internas da administração, foi uma reunião reservada entre a prefeita e membros do primeiro escalão, onde foram apresentadas projeções de desgaste político caso a medida fosse adiante. Também pesaram as matérias jornalísticas publicadas pelo No Alvo, que ao longo das últimas semanas amplificaram a voz da base do funcionalismo, apontando para os riscos sociais e eleitorais que a mudança traria.

"Assumindo esse risco, mas é um risco previsível", disse a prefeita ao confirmar que, mesmo com dificuldades administrativas, o pagamento continuará até o dia 30. A expressão foi lida por servidores como um reconhecimento tácito de que a prefeitura ainda enfrenta desafios para fechar a folha a tempo, mas que não haveria margem política para insistir na mudança.

A postura da administração também foi encarada como uma derrota simbólica do núcleo técnico da Prefeitura. Especialmente da área financeira e da contabilidade, que desde o começo defendiam a migração para o quinto dia útil, alegando que a medida traria maior margem de manobra para a gestão de caixa e cumprimento de obrigações tributárias junto ao governo federal.

"Estaremos com todos os olhos atentos para que nenhum erro ocorra, mas que dia 30 o salário esteja lá na conta", prometeu Adriana Duch, encerrando o comunicado com a retórica que tem marcado seus discursos públicos: mistura de religiosidade e chavões motivacionais.

Para muitos analistas políticos de Itapeva, a decisão representa mais do que um recuo administrativo. Trata-se de um sinal claro de que a prefeita passa a sentir com maior intensidade os efeitos da insatisfação popular. No interior paulista, cidades como Itapeva têm tradição de pagar seus servidores dentro do próprio mês trabalhado — não apenas como estratégia de gestão pública, mas também como fator de equilíbrio econômico para o comércio da cidade. Qualquer ameaça a esse ciclo, mesmo que tecnicamente justificável, se transforma rapidamente em crise política.

A base aliada na Câmara comemorou discretamente a decisão, enquanto os vereadores de oposição aproveitaram o episódio para reforçar o discurso de que o governo municipal tem tomado decisões sem o devido diálogo com a população. Entre os servidores, o sentimento é de alívio, mas também de vigilância. Muitos já se mobilizam para evitar que o tema volte à pauta futuramente.

A crise expôs uma vulnerabilidade política da gestão Adriana Duch, que terá pela frente o desafio de recuperar a confiança de um dos pilares mais importantes da administração municipal: o servidor público. Não é exagero dizer que a prefeita de Itapeva saiu arranhada dessa queda de braço. Se a decisão de recuar foi um movimento de sobrevivência política, o tempo dirá se ela conseguirá reconstruir as pontes com os segmentos que, até então, apoiavam sua administração de maneira mais fiel.

Enquanto isso, fica a lição: em cidades onde o funcionalismo representa boa parte da força econômica, mexer no calendário de pagamento dos servidores é, antes de tudo, uma decisão política — e, como Itapeva acaba de provar, de alto risco.

 

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