Boletim da Santa Casa de Itapeva revela superlotação na Pediatria e nas UTIs
Dados da semana entre 16 e 22 de junho revelam ocupações
acima de 100% em diversas áreas e reforçam desafios enfrentados pelo sistema
público na região
A Santa Casa de Misericórdia de Itapeva, divulgou nesta
quarta-feira, 2 de julho, o primeiro boletim semanal de indicadores
assistenciais de 2025, referente ao período de 16 a 22 de junho. O
levantamento oferece uma radiografia detalhada do funcionamento da instituição
no atendimento à população da cidade e região, evidenciando gargalos críticos
na ocupação hospitalar e apontando para a urgente necessidade de reorganização
dos fluxos de atendimento nas unidades básicas e pronto atendimentos.
Entre os dados que mais chamam atenção está a taxa de
ocupação dos leitos da Pediatria, que atingiu impressionantes 196,4%,
evidenciando uma demanda muito acima da capacidade instalada. Na UTI Neonatal,
a taxa também ultrapassou os 100%, alcançando 130%, enquanto a Clínica Médica
registrou 113,94%. Já a Unidade de Terapia Intensiva para adultos operou com
90,9% de ocupação média durante a semana analisada.
O relatório, que passa a ser divulgado semanalmente, busca
garantir transparência na gestão hospitalar e subsidiar políticas públicas e
decisões estratégicas baseadas em dados reais. A proposta, segundo a direção da
Santa Casa, é ampliar o acesso da população e dos gestores aos números que
definem a saúde pública regional, ao mesmo tempo em que se fomenta um ambiente
de responsabilidade compartilhada entre Estado, municípios e sociedade civil.
Outro indicador relevante do boletim diz respeito aos
atendimentos realizados no Pronto Socorro da instituição, que totalizaram 524
na semana de referência. Desse total, 267 atendimentos foram classificados como
de “urgência e emergência”, representando 66,25% do total, enquanto os demais,
33,75%, foram casos classificados como AZUL ou VERDE, ou seja, de baixa
complexidade e que deveriam ser direcionados a unidades básicas de saúde (UBS)
ou à Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Essa distorção no uso do pronto
socorro agrava a sobrecarga dos profissionais e prejudica o atendimento a casos
mais graves.
O levantamento também revela o volume de pacientes atendidos
pelo Sistema Único de Saúde (SUS) por município. Itapeva respondeu por 57,42%
dos atendimentos realizados na semana, com 89 registros, enquanto 209
atendimentos (42,58%) foram de pacientes vindos de outros municípios, o que
reafirma a centralidade da Santa Casa como referência regional em saúde para
todo o sudoeste paulista. No total, foram contabilizados 298 pacientes
internados no período, sendo 120 desses oriundos do pronto socorro.
Outro dado relevante trazido pelo informativo é o número de
cirurgias realizadas. Foram 114 procedimentos no total, sendo 89 de urgência e
25 eletivos (programados). Ainda segundo a publicação, 190 pacientes permanecem
em tratamento na hemodiálise e a oncologia contabiliza média de 71,4 pacientes
em acompanhamento semanal.
Apesar do cenário desafiador, o boletim destaca também as
ações e iniciativas de humanização e educação continuada promovidas pela
instituição. A semana contou com a realização de reunião do Programa de
Residência Médica em parceria com a Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP),
estreitando laços entre ensino e serviço e garantindo que a formação médica na
região seja pautada pela vivência prática da realidade hospitalar. A Santa Casa
também promoveu, por meio de sua Brigada de Incêndio, um quiz interativo com os
brigadistas, estimulando o conhecimento técnico de forma lúdica e
participativa.
Outro destaque positivo foi a campanha de doação de medula
óssea, que obteve projeção em rede nacional, além do tradicional “Arraiá da
Hemodiálise”, promovido com o objetivo de proporcionar momentos de descontração
e acolhimento aos pacientes em tratamento renal.
Em relação às arboviroses e síndromes respiratórias, o
boletim informa que, na semana em questão, não houve internações ou registros
de casos suspeitos ou confirmados de dengue, o que indica, pelo menos
momentaneamente, uma trégua no avanço da doença no município. Quanto à síndrome
respiratória, também não houve registros internados ou sob suspeita.
Diante dos números apresentados, é inevitável uma reflexão
sobre a urgência de políticas públicas mais eficazes para descongestionar os
serviços de alta complexidade, sobretudo por meio do fortalecimento da atenção
básica e da ampliação da cobertura de serviços intermediários, como UPAs e
ambulatórios especializados. Os altos índices de ocupação, sobretudo na
pediatria, funcionam como um alarme estridente para os gestores da saúde
municipal e estadual: a rede está sobrecarregada e precisa de reforço — técnico,
humano e financeiro.
Ao mesmo tempo, os dados também revelam a importância
estratégica da Santa Casa de Itapeva como eixo estruturante do sistema regional
de saúde, o que impõe a necessidade de contínuos investimentos, seja por
emendas parlamentares, seja por convênios com o governo estadual e federal,
para garantir que a população siga sendo atendida com dignidade, mesmo diante
das adversidades.
A publicação semanal desses boletins deve contribuir para a
conscientização coletiva, permitindo à sociedade civil organizada, aos
vereadores e aos gestores públicos uma visão clara da realidade hospitalar. A
transparência dos números é o primeiro passo para a construção de soluções
viáveis. Mas, como sempre, os dados só fazem sentido quando motivam ações
concretas — e urgentes.

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