Saúde

Santa Casa de Itapeva ultrapassa 3.800 atendimentos oncológicos e opera com superlotação em áreas críticas

Boletim da semana revela pressão sobre leitos clínicos e pediátricos, enquanto 62% dos atendimentos de pronto-socorro envolvem casos que poderiam ser resolvidos na atenção básica

A Santa Casa de Misericórdia de Itapeva divulgou nesta terça-feira, 8 de julho, o boletim informativo referente à semana de 1º a 7 de julho de 2025, revelando um cenário de alta pressão sobre a rede hospitalar. Com taxas de ocupação que ultrapassam 113% na clínica médica e 102% na pediatria, o hospital opera além da capacidade em setores cruciais do atendimento, agravando os desafios enfrentados pelo sistema público de saúde na região.

De acordo com o levantamento, a unidade realizou 136 cirurgias no período — 115 de urgência e 21 eletivas —, mantendo o mesmo volume no acumulado mensal. A maioria dos procedimentos está relacionada a situações emergenciais, o que sinaliza uma demanda espontânea crescente e possivelmente uma defasagem na regulação preventiva de saúde. Ao todo, foram registrados 638 atendimentos de pronto-socorro, sendo que 313 (49,06%) dos casos estavam classificados como “azul” ou “verde”, ou seja, de menor gravidade e que deveriam, conforme a própria recomendação do boletim, ser direcionados a unidades básicas ou de pronto atendimento. Isso indica que mais da metade dos pacientes chega ao hospital por condições que poderiam ser tratadas na atenção primária, gerando sobrecarga desnecessária.

Outro ponto crítico revelado pelos dados é a distribuição dos atendimentos por município. Dos 638 atendimentos de urgência e emergência, 62,7% foram de moradores de Itapeva, enquanto os demais 37,3% vieram de municípios vizinhos, evidenciando o papel regional da Santa Casa. O mesmo padrão se repete nas internações: das 207 registradas na semana, 115 (55,56%) são de pacientes itapevenses e 92 (44,44%) de outros municípios. Esse cenário reafirma a necessidade de pactuações e repasses financeiros compatíveis com a demanda regional absorvida pela unidade.

Nos tratamentos de longa duração, a Santa Casa mantém uma rotina intensa: são 190 pacientes em hemodiálise e uma média impressionante de 3.800 em tratamento oncológico. O número elevado de atendimentos oncológicos evidencia tanto o crescimento da demanda por terapias especializadas quanto o compromisso da instituição em manter o atendimento mesmo sob limitações estruturais e orçamentárias.

A taxa de ocupação semanal também chama atenção. A clínica médica, que apresentou superlotação de 113,27%, está funcionando além de sua capacidade instalada. Na pediatria, a taxa chega a 102,40%, demonstrando que o setor infantil também sofre com o esgotamento da estrutura. A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) está com 89,61% de ocupação, a neonatal em 85,70% e a maternidade opera com 77,90%, índices que, embora abaixo do limite, indicam constante tensão operacional.

Além dos indicadores assistenciais, o boletim destaca eventos institucionais, como o lançamento da campanha de cadastramento de medula óssea — estendida até 10 de julho — e a reunião da liderança regional de saúde com o presidente da FEHOSP, Edson Rogatti, e gestores da Santa Casa. Também houve arrecadação de R$ 14.066,37 em um chá solidário, verba destinada à compra de medicamentos oncológicos, além de treinamentos internos com equipes multiprofissionais e doações de cobertores para bebês internados na maternidade.

No campo da vigilância epidemiológica, a semana encerrou sem registros de internações ou casos suspeitos de dengue. Já as síndromes respiratórias, embora em patamar estável, ainda mobilizam recursos significativos: foram 146 atendimentos em urgência e emergência e seis internações.

O boletim traz, ainda, um alerta sobre a inadequação de parte dos atendimentos classificados como leves (azul e verde), que poderiam ser absorvidos pela rede básica municipal. A insistência da população em buscar diretamente o hospital para sintomas leves acaba gerando gargalos e elevando o tempo de espera de pacientes graves.

A publicação, parte de um esforço da Santa Casa de Itapeva para manter a transparência, reforça o papel estratégico da instituição para a saúde pública da região sudoeste paulista e lança luz sobre os desafios logísticos, financeiros e humanos enfrentados pela gestão hospitalar. A manutenção de índices elevados de ocupação, aliada à crescente procura por especialidades como oncologia e nefrologia, demanda atenção redobrada das autoridades municipais e estaduais no planejamento de investimentos e expansão da rede de apoio.

A análise dos dados revela, portanto, não apenas números, mas uma estrutura hospitalar em estado de atenção constante, que continua respondendo à altura das necessidades da população — mesmo quando os recursos disponíveis operam no limite. O que os indicadores desta semana evidenciam é que a Santa Casa de Itapeva cumpre um papel vital, mas a continuidade dessa prestação de serviço com qualidade exige, mais do que nunca, compromisso político, articulação regional e investimento público contínuo.

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